terça-feira, 19 de maio de 2009

Liberdade vigiada

Você tem uma foto que é flagra de uma celebridade? Ou quer contar a sua visão da final do Campeonato Estadual, já que estava lá no estádio, sofrendo junto com seu time? Ou tem uma verdadeira cratera na sua e quer fazer uma matéria para denunciar? Você tem espaço no jornalismo participativo para falar, escrever, mandar vídeos e fotos sobre o que quiser. Você poder ser o jornalista. Mas lembre-se que toda essa liberdade é vigiada.

Alguns exemplos praticados no Brasil e no mundo têm vigilância em diversos níveis, mas ela sempre está lá. Vamos começar pelos nossos produtos nacionais. No portal iG, o serviço de jornalismo participativo é o Minha Notícia. O internauta manda textos, fotos, vídeos mensagens por SMS e tudo é analisado e apurado pela equipe de editores na redação antes de ir ao ar. São esses editores que arrumam possíveis erros de português nos textos e também decidem o que vai ser destacado na home do canal. Ou seja, nem tudo que é recebido é publicado e nem tudo que é publicado é destacado.

Segundo o editor do Minha Notícia Daniel Hassegawa, a checagem e apuração das informações é necessária para evitar erros, desde concordância verbal até de informação. Ou seja, o internauta tem a liberdade de escrever sobre o que desejar, mas será vigiado sempre por um editor “desconfiado”. Por outro lado, esse tratamento à informação recebida pelos meios participativos é um cuidado para manter o padrão e a veracidade das notícias.

O portal Uol, por exemplo, já pecou nesse aspecto. No caso do acidente da TAM, em julho de 2007, um usuário mandou uma foto que na verdade era uma montagem de um boneco no hangar em chamas e a imagem foi parar na home principal do portal.

Lá fora, dois exemplos bem sucedidos de jornalismo participativo também dão uma “liberdade vigiada” aos seus usuários. O sul-coreano OhMyNews também usa uma equipe de editores na redação para controlar as publicações. Mas isso não inibe as colaborações. O site nasceu em 2000 e, em 2004, ganhou uma versão internacional. E quem mandava uma história que, na visão dos editores, merecia destaque na página principal, ainda ganhava por isso. Entretanto, o site parou de pagar pelas suas contribuições no começo deste ano, por conta da crise mundial.

Quem também faz parte dessa “liberdade vigiada” é o Slashdot, muito conhecido e reconhecido no universo da tecnologia. Os colaboradores podem até escrever posts anônimos, mas apenas 12 ou 15 textos dos 300 a 400 recebidos por dia são publicados. Sete pessoas, incluindo Rob Malda, fundador do portal, selecionam o material. A diferença no Slashdot é que mais pessoas tem o poder de vigiar a liberdade dos outros. Nenhum texto é checado, porém membros da comunidade, escolhidos entre os que mais colaboram com os melhores conteúdos, fazem o papel de moderadores e controlam os comentários nas matérias. Eles distribuem pontos ao que é publicado e, quem tem melhor ranking, ganha maior destaque. E também são vigiados por outros membros da comunidade, que têm a responsabilidade se ver se os pontos são justos ou não. Ou seja, qualquer um pode escrever, mas será mais lido quem tiver mais pontos. E até esses pontos são vigiados.

Você pode tudo, tem a liberdade de escrever, fotografar, fazer vídeo sobre o que quiser. É a sua utopia. Por outro lado, vive em uma sociedade de controlada e enfrenta a distopia de quem está com o poder de edição nas mãos.

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